quinta-feira, 27 de março de 2008

A invenção da ginástica no século XIX: MOVIMENTOS NOVOS, CORPOS NOVOS. Dr. Georges Vigarello.

A criança obtem resultados medidos e comparados ao longo do tempo: A força de pressão de suas mãos dobrara ( em cinco meses); com seus braços, ele se erguia a três polegadas do chão, e ficava assim, suspenso, durante três segundos; ele saltava três pés de largura, percorria cento e sessenta e três passos em um minuto e carregava, neste mesmo período de tempo, um peso de trinta e cinco libras sobre seus ombros [ um ano depois] ele saltou, com impulso, seis pés de largura e percorreu quinhentos passos em dois minutos e meio.
Apenas o dianamômetro, inventado por Régnier, no fim do século XVIII, permitia avaliação, em quilogramas, das forças exercidas sobre esse instrumento: sua mola, inalterável e graduada, transpõe em números potência dos músculos. Graças ao mesmo, Péron estabelecera tabelas sugestivas durante sua viagem ao redor do mundo em 1806; os homens do continente austral mostravam-se inferiores aos homens oriundos da Europa; os selvagens mal alcançavam 50 quilos com a pressão das mãos no dinamômetro, enquanto que os marinheiros ingleses ou franceses alcançavam ou ultrapassavam 70 quilos.
O dinamômetro vai ganhando prestígio, e por volta do início do ano de 1830 se difunde para além das fronteiras do ginásio. Penetra nas feiras províncias, nos jogos dos campos, aventura-se por debaixo das lonas dos circos itinerantes, armados nos corações das cidades. Agrega-se a tudo isso a atração de uma energia imaginária: a comparação, por exemplo, entre a quantidade de trabalho produzido e o tipo de alimentação absorvida; a insistência sobre a quantidade de tarefas realizadas relacionadas á quantidade de um regime a base de carne, em particular.
O tema central é certamente o da eficácia mensuravel, aquela traduzida pelas forças musculares, pelas velocidades e regularidades. A ginástica é instrumentalizada com a finalidade de multiplicar os números, ela se reestrutura com precisão para transformá-los em perfomances e melhorar os índices; o corpo deve produzir resultados que podem ser vistos, aferidos entre si, figuráveis no vigor de uma tabela. Surge, então, essa possibilidade totalmente nova de transpor cada performance em uma escala abstrata, possibilidade que permitirá intermináveis comparações. A ginástica mais sugere resultados, inventa gestos, recompõe exercícios e encadeamentos. Ela cria, em particular, novas hierarquias de movimentos do mais simples ao mais complexo, do mais mecânico ao mais elaborado, reinventando, parte por parte, progressões e sequências.
O programa comporta ainda uma "ginástica ortopédica" igualmente reveladora: um conjunto de movimentos suficientemente precisos, uma mobilização de músculos suficientemente individualizados para pretender corrigir as curvaturas errôneas do corpo. O que vem confirmando uma descoberta: a de um espaço corporal totalmente atrvessado por lógicas mecânicas, a de atos musculares totalmente pensados em razão do seu efeito localizado. É evidente que a maioria das deformidades provenientes da debilidade geral do sujeito ou da distribuição desigual das açoes musculares, podem seguramente ser curadas: por um lado aumentando energia do organismo e por outro eliminando com exercícios apropriados os efeitos nocivos produzidos pelos hábitos anteriores. O movimento se simplificou de tal forma e os músculos foram tão corretamnete distribuídos que uma ortopedia foi se criando a ponto de engendrar ginásios, máquinas e instituições.
Sem dúvida alguma, essa primeira ginástica produziu impacto além dos projetos escolares ou ligações com as forças armadas e a indústria. Relatórios lisonjeiros acompanham as primeiras experiências de Amoros e assinaturas de autoridades médicas, militares ou políticas lhes asseguram uma legitimidade.
A prática é mais difícil de ser estabelecida concretamente. Os ginásios civis e militares perdem todas as subvenções do Estado a partir de 24 de janeiro de 1838. O diretor Amoros é impedido de exercer suas funções no ginásio, afastado de seu posto e colocado em "inatividade", por ser objeto de testemunhos e relatórios reticentes. "Não se pode esperar alguma coisa boa de um estabelecimento cujo o chefe está tomado por um tal espírito de desordem.

2 comentários:

Epistemologia da Educação Física disse...

Prezada Myrna,
Sugiro inicialmente que coloque o título do resumo no formato de Referência Bibliográfica:

Resumo: VIGARELLO, Georges. A invenção da ginástica no século XIX: movimentos novos, corpos novos. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte. V. 25, n. 1, p. 9-20, setembro de 2003.

Lembro que um resumo deve conter: os critérios de: exposição do tema central (primeiro), exposição da perspectiva do texto (segundo) e apresentação dos argumentos do texto (terceiro). Cada um dos três critérios vale 0,3. a soma dos três dá 0,9. O 0,1 para atingir 1,0, é referente à sua autonomia na escrita.

Esboçando um comentário geral, expresso que seu exercício de resumo apresenta algumas paralisações. Por exemplo, você novamente inicia não apresentando os dois primeiros critérios de um resumo. Ao contrário, você prefere iniciar seu resumo com uma parte muito específica do texto. Contudo, você deve começar por aquilo que é mais geral do texto. Portanto, tente operar nos resumos com a terceira pessoa do singular ou do plural, este último quando for com mais de um autor. O início ficaria assim: “O texto...” Ou seja, “(ele) O texto...” Perceba que assim você estará trabalhando com o pronome demonstrativo “esse”. Podendo ser também o início: “Esse texto...” Isto é, qual texto? Ora, o citado no título do resumo. Por isso que o título deve estar bem claro e completo. Pois aí você já conta com ele como sendo parte e início do seu resumo. Na seqüência você continua muito bem dizendo: “Este texto analisa a ruptura da tradição surgida na Europa...” Pergunto: qual tradição? Veja que a resposta está presente na segunda e terceira linha: “...a renovação da visão dos exercícios físicos...” Então ficaria assim: “Esse texto analisa, a partir de uma perspectiva historiográfica (perspectiva do autor, exigência do resumo), a ruptura da tradição ocorrida entre os anos de 1810 e 1820 referente aos exercícios físicos, bem como da visão do corpo, por meio de uma nova concepção de ginástica motivada pelos paradigmas da física e da matemática aplicados através dos sistemas de medidas comparáveis universalmente. O corpo passa a ser visto como produtor de movimentos contabilizados...” Aí você continua: “O exemplo mais notável apresentado pelo o autor foi a invenção do dinamômetro...” Contudo, perceba que você constrói seu texto juntando cópias de parte do texto: isso não poderá ser feito. Você deve exercer a autonomia na escrita do resumo de modo a sempre estar mencionando o autor. Do contrário, não estará apresentando avanços significativos.
Atenciosamente,
Prof. Renato Izidoro

thuco disse...

no meu ele pediu pra eu ler o de luis e tarcisio, esse comentario e legal...